IV – A Revolução dos Cintras

Os liberais apeados do poder na província não se conformaram com a nomeação do Marquês de Monte Alegre para o governo de São Paulo. O mais exaltado era exatamente o Padre Diogo Antônio Feijó, que combatera com mão de ferro as revoluções e motins que se seguiram à queda do Imperador D. Pedro I. Aliado a Feijó estava o prestigioso chefe liberal de Sorocaba, Rafael Tobias de Aguiar, que se casara com a antiga favorita do Imperador, a Marquesa de Santos.
A conspiração liberal começou já com a intenção de derrubar o presidente da província pelas armas. A 17 de maio de 1842 a revolta pipocou no Vale do Paraíba, em Sorocaba, Campinas e outros lugares.
Em Amparo, nessa época, as famílias Silveira Franco e Cintra lideravam o Partido Liberal, enquanto os conservadores se agrupavam em torno do Capitão Salvador de Godoy Moreira. O Padre Feijó tinha muita esperança nos liberais amparenses, chegando a escrever artigos ameaçando o comandante das tropas imperiais, o então Barão de Caxias, com o avanço de uma coluna de Amparo contra São Paulo.
José Manuel Cintra, o Major José Jacinto de Araújo Cintra e outros seus parentes, os Silveira Franco e parentes e mais agregados e partidários se reuniram na fazenda de Joaquim Cintra da Silveira (mais tarde Barão Cintra), no dia 5 de junho. Seu objetivo era atacar o Amparo e depois tomar Bragança e Atibaia, para se reunir com as tropas de Rafael Tobias de Aguiar e enfrentar os legalistas do Barão de Caxias. Entretanto, uma tropa vinda de Mogi-Mirim, certamente arregimentada pelo Padre Ramalho, chefe conservador daquela vila, atacou a fazenda e dispersou os liberais. Parte deles se escondeu nas matas, mas um grupo de 40 cavaleiros, sob comando de José Manuel Cintra. atravessou Amparo de madrugada, dirigindo-se para Atibaia, onde todos se refugiaram.
O delegado Godoy Moreira não perdeu tempo e instalou um inquérito, ao mesmo tempo em que efetuava algumas prisões de liberais. A Revolução Liberal foi derrotada, Feijó preso, Rafael Tobias fugiu para o Sul, mas uma anistia acabou por pacificar os ânimos.
O episódio, denominado em alguns documentos da época de “Revolução dos Cintras”, marcou o primeiro choque político em terras amparenses e definiu a divisão entre liberais e conservadores: Silveiras e Cintras de um lado, de outro, os Godoys Moreira e Cordeiros. Entre os dois grupos havia relações de parentesco, pelo que a disputa se amenizava um pouco.
Enquanto isso, um novo fator estava surgindo na região: uma intensa migração de lavradores campineiros, de médio e grande poder econômico, estava ocorrendo desde o início da década de 1840; vinham atraídos pelo baixo preço das terras e pela suas vantagens no cultivo do café. Durante os noventa anos seguintes esse fato iria influir decisivamente na política amparense. Campineiros e seus descendentes dominariam a política local a maior parte do tempo até 1930.
De qualquer forma, o palco estava armado para uma longa rivalidade eleitoral, tão logo se alcançasse a autonomia municipal.